Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade, recomendar conteúdo de seu interesse e otimizar o conteúdo do site. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Confira nossas Políticas de Privacidade e Termos de Uso, clique aqui.

O jornal que todo mundo lê
Publicidade
Colunas
07/08/2025 - 10h00
9º Festival de Cultura e Cozinha Mineira do Cerrado, Infinitas Leituras 
Confira a coluna escrita por Emerson Miranda

Há lugares que não precisam de muito para dizer tudo. E há momentos em que o tempo parece se dobrar em reverência àquilo que existe entre a memória e o agora. Assim foi o 9º Festival de Cultura e Cozinha Mineira do Cerrado, realizado no Espaço Cultural de Patrocínio — um território onde a cidade, ao invés de se espalhar, se concentrou. Em cada canto, em cada voz, em cada cheiro de comida viva, ouvi a mim mesmo com mais nitidez do que em muitos espelhos.

Foram quatro dias em que a arte não serviu como ornamento, mas como afirmação. A música, a gastronomia, as conversas e a expressividade de quem faz cultura com as mãos, os olhos e o coração criaram uma ambiência que beirava o sagrado — não pelo silêncio, mas pela intensidade com que se viveu cada instante. E foi ali, entre a delicadeza de um prato exposto e a contundência de uma viola que contava histórias, que percebi: este festival não é apenas um evento. É uma delicada máquina de identidade.

O que vi este ano — e me permiti sentir — foi a maturidade de uma iniciativa que chegou à sua nona edição não por insistência, mas por relevância. O que antes era promissor, agora é indispensável. O festival cresceu. Ganhou corpo, voz e, sobretudo, escuta. Foi notável a maneira como o público respondeu, não apenas com aplausos, mas com permanência, com atenção, com pertencimento. E quem esteve presente sabe: houve algo ali que não se pode quantificar em números, embora até eles tenham sido superados.

O Espaço Cultural, que por si só já carrega uma aura de respeito, se transformou em uma espécie de abrigo simbólico. Não foi apenas palco ou cenário, mas organismo vivo — com seus corredores repletos de sons, aromas e conversas que nos atravessavam com uma delicadeza que só a cultura sabe ter. Nada ali pareceu improvisado. Tudo sugeria cuidado, escolha, intenção.

É justo, portanto, reconhecer — com a discrição que a boa política exige — o papel da Secretaria Municipal de Cultura, que demonstrou não apenas competência técnica, mas sensibilidade curatorial. A articulação precisa entre equipes, artistas e expositores revelou um trabalho de bastidor que merece ser mencionado. E, de maneira serena, mas não menos enfática, também cabe destacar toda a gestão pública que compreendeu que cultura não é apêndice, é eixo. Quando a administração de uma cidade entende isso, os frutos não são apenas visíveis: são comestíveis, no sentido mais pleno do termo.

Cada artista que se apresentou, cada produtor que montou sua estrutura com esmero, cada “chefe”  que lavou a folha de ora-pro-nóbis como se estivesse preparando o prato para sua mãe — todos contribuíram com uma parte de si. E o resultado foi um festival coeso, honesto, com camadas de sentido. Havia tradição, mas também havia risco. Havia memória, mas também havia invenção. O festival soube respeitar o que somos, sem deixar de sugerir o que podemos ser.

Voltei para casa com a alma afagada. E com uma sensação difícil de nomear: não era euforia, era enraizamento. Um tipo raro de alegria que não salta, mas finca. E é por isso que já aguardo a próxima edição não como quem espera um novo espetáculo, mas como quem anseia reencontrar a si mesmo. Porque, entre uma história contada e uma receita transmitida, reencontrei ali um pedaço do que sou — e que, no correr dos dias, às vezes me escapa.

O Festival de Cultura e Cozinha Mineira do Cerrado é hoje mais do que um evento anual. Ele é uma usina de identidade coletiva. E quem se dispuser a ouvir, mesmo em meio à multidão, perceberá o que eu percebi: que a cultura, quando é feita com afeto, critério e abertura, nos devolve não só nossa história, mas nossa inteireza.

Até 2026, Festival. Que venhas, mais uma vez, como quem chama, e não apenas convida.



Confira Também


Publicidade

no Facebook