Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade, recomendar conteúdo de seu interesse e otimizar o conteúdo do site. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Confira nossas Políticas de Privacidade e Termos de Uso, clique aqui.

O jornal que todo mundo lê
Publicidade
Fatos e Fotos
20/04/2021 - 10h04
Seja antirracista!
Conheça formas de ajudar a diminuir a discriminação racial na sua comunidade
Imagem: Freepik.

Por Stéfany Christina


Mais uma data que dá visibilidade às lutas sociais passou, mas ainda há muito a ser feito. Dia 21 de março foi “celebrado” o Dia Internacional contra a Discriminação Racial a data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1966 para relembrar o “Massacre de Shaperville” que ocorreu no mesmo dia em 1960.

De lá para cá houve algumas vitórias para as lutas sociais, porém os dados continuam sendo alarmantes e a data passou a ser uma reflexão do que pode ser feito para que mais vidas não sejam perdidas. Segundo dados do Atlas da Violência de 2020, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5% em uma década e no mesmo período, de 2008 a 2018, a taxa de pessoas não negras (brancos, amarelos e indígenas) apresentou uma queda de 12,9%.

Para discutir um pouco mais sobre o tema e ainda entender quais atitudes deve-se ter para ajudar a diminuir a discriminação racial, a redação do Jornal Gazeta de Patrocínio conversou com a Revalina Silva, pedagoga especialista em educação de jovens e adultos, especialista em educação infantil, ativista social e cultural no município de Patrocínio e, atualmente, coordenadora a Central Única das Favelas (CUFA) na cidade onde são desenvolvidas várias atividades relativas às questões sociais, culturais e educacionais.


"O que eu tenho feito de diferente para contribuir para a igualdade e equidade no meu país? Como promover a equidade racial e dar espaços de fala para todas e todos, oportunidades para todas e todos, principalmente no que diz respeito à questão do emprego? No que diz respeito à educação? Por que existem muitos discursos de que todos nós somos iguais, mas essa igualdade ela só acontece quando o outro não se sente ameaçado." Revalina Silva


Antes de qualquer coisa, é importante esclarecer o que é discriminação racial. Segundo o Artigo I da Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial: “Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública”.

Para Revalina Silva a data é um marco nas lutas de movimentos de pessoas que em algum momento precisaram levantar as bandeiras contra a discriminação. “E a gente vê isso muito forte nos dias atuais porque depois de anos após o fim da escravidão ainda existem índices de violência, de discriminação, de preconceito e de racismo contra uma parte da população, principalmente contra a população negra. Então nesse sentido, torna-se indiscutível a necessidade de termos datas onde podemos discutir esses fatos de violências que são geradas contra a população e propor atividades voltadas para a conscientização da população a respeito dessa temática”, afirma.

Outros termos que devem entrar em pauta e no vocabulário popular são o racismo institucional e o racismo estrutural, ambos são formas de diminuir parte da população, através do preconceito e da discriminação acreditando que existem seres superiores aos outros de acordo com o tipo físico, a cor da pele e com as crenças.

“Eu entendo como racismo institucional, o que é determinado dentro de instituições que muitas vezes foram criadas até para esse fim de classificação das pessoas pela cor da pele, podemos usar como exemplo algumas empresas onde não há representatividade da população negra nesses espaços, a falta de oportunidade nas áreas educacionais, entre outras. E vejo como racismo estrutural, o racismo que a gente vive, aonde normaliza e normatiza as ações de preconceito e discriminação por conta também da cor da pele, mas partindo do princípio de normalizar nossas piadas, brincadeiras, de questionar as lutas antirracistas e ainda assim acreditar que existe uma superioridade e inferioridade étnico-racial entre as pessoas”, pontuou Revalina Silva.

Você que está lendo pode chegar a pensar “não preciso saber dessas coisas, porque não sou racista”, mas este pensamento é errôneo, pois ao viver em uma sociedade racista todos os habitantes dessa também são racistas e muitas vezes nem percebem por ser algo tão natural daquele local.

“Existe um racismo estrutural que é esse que enfrentamos diariamente, existe o racismo institucional que enfrentamos através de instituições e existe esse racismo que as pessoas chamam de racismo velado que não é velado, porque machuca, gera violência e gera inúmeros problemas para um lado da população. Então podemos dizer que nós somos racistas”, completa a coordenadora da CUFA Patrocínio.


Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista

Após entender um pouco sobre a luta contra a discriminação, chegou o momento de combater atitudes diárias que ajudam a dados como o do Atlas da Violência serem recorrentes na sociedade. Para a pedagoga Revalina Silva, não deveria existir um manual de como combater a discriminação racial, pois isto parte do pressuposto de uma análise das ações de cada um.

“O que eu tenho feito de diferente para contribuir para a igualdade e equidade no meu país? Como promover a equidade racial e dar espaços de fala para todas e todos, oportunidades para todas e todos, principalmente no que diz respeito à questão do emprego? No que diz respeito à educação? Por que existem muitos discursos de que todos nós somos iguais, mas essa igualdade ela só acontece quando o outro não se sente ameaçado. Então acho que são práticas positivas de incentivo à educação, às políticas públicas, à nossa ação de não disseminar notícias falsas, quando toda vez que tenho um ato de preconceito, um ato de discriminação ou de racismo, não tratar a temática como se fosse uma brincadeira. Então acho que o caminho é esse, não existe uma fórmula, mas pelo menos temos que tentar fazer a nossa parte”, esclarece.

Além disso, ela pontua ser necessário fazer políticas públicas de reparação, principalmente através da educação, com materiais retratando a real história do povo negro no Brasil. É importante através da economia, dar incentivo a pequenas empresas de pessoas negras, que tem muito mais dificuldade de se manter no mercado. E também entender que as lutas acontecem por realmente existir uma parte da população que está sendo precarizada.

“Eu sou da área da educação porque acredito que ela transforma e a educação é uma das únicas formas de combater a discriminação. É educando o nosso povo, fazendo atividades de educação dentro das instituições educacionais, é fazer um processo de educação das pessoas dentro das empresas e é fazendo a conscientização de um povo que a partir do momento que conhece a real história, eu não vejo outra forma que não seja através da multiplicação do processo educativo com uma educação antirracista”, contou Revalina.

Por isso, reflita suas atitudes e analise o que pode fazer para tornar sua comunidade um local mais acolhedor e diverso, pois é na diversidade que se encontra inovações e melhores condições de vida para todos.

“Eu termino citando Angela Davis, ‘não adianta não ser racista, é preciso ser antirracista’. E digo ainda que precisamos encontrar caminhos para promover a igualdade e equidade racial, encontrar políticas públicas eficientes para diminuir os índices de discriminação, preconceito e racismo nessa sociedade que conscientemente ou inconscientemente exclui, tenta eliminar e tenta diminuir a luta dessas pessoas”, concluiu.



Confira Também


Publicidade

no Facebook