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Colunas
05/11/2025 - 16h03
Se o Coração Diz Sim
Confira a coluna escrita por Emerson Miranda

Ninguém está pronto.
Essa é, talvez, a única certeza possível.

Quem espera estar completamente preparado para ser pai talvez nunca venha a ser.
Não existe manual, nem bússola, nem rota fixa.
Só existe o passo. E depois dele, o outro. E outro. E outro.
Um caminho que se constrói mais pelo tato do que pelo mapa.

Ser pai não é uma ciência exata.
É uma arte invisível, feita de tentativas, erros, acertos e silêncios.
É como afinar um instrumento que nunca se viu antes: você não sabe bem como tocar, mas percebe que há música ali — e que ela depende de você.

Talvez te digam que é loucura. Que é cedo. Que é tarde. Que é caro. Que é difícil. Que não é a hora.
Mas o que é “a hora”? Quem define esse relógio misterioso?

A verdade é que a hora não vem do calendário, nem da conta bancária, nem dos conselhos.
A hora vem do peito.
Se o coração diz sim — então é agora.

Eu mesmo ouvi muitas vezes que ser pai era abrir mão da liberdade, da rotina, do descanso.
Ouvi que eu teria que trabalhar o triplo, dormir pela metade, viver dividido.
Ouvi que filhos são urgências, que ocupam tudo, que demandam, que engolem o tempo.

Mas foi só quando Emanuel chegou e está próximo de completar um ano que percebi:
há uma diferença imensa entre ouvir e viver.

Ser pai não é carregar peso dobrado.
É caminhar com outra leveza.
É olhar para o mundo com outros olhos — e, sobretudo, com outro propósito.

A vida muda? Muda.
Mas é uma mudança que não nos diminui — nos amplia.

Você passa a habitar mais do que o próprio corpo.
Você passa a existir em outro alguém.
Um ser que ainda nem sabe dizer seu nome, mas que já te reconhece pelo cheiro, pela voz, pelo toque.

E é aí que mora o milagre.
Na simplicidade de uma presença.
No poder de um colo.
Na paz de um silêncio partilhado entre pai e filho — enquanto o mundo lá fora corre, atropela, exige.

Quando você diz sim ao chamado da paternidade, você está aceitando ser presença antes de ser resposta.
Está aceitando não saber tudo, mas estar inteiro.
Está aceitando que o amor te transforme — e ele vai.

Sim, há medos.
Sim, há incertezas.
Sim, há dias em que a dúvida cochicha: será que estou fazendo certo?

Mas entre o medo e o amor, sempre escolho o amor.
Porque ele é o único que ensina sem exigir explicação.
É o único que ampara quando tudo parece demais.
É o único que, mesmo cansado, encontra forças no sorriso banguela que te olha como se você fosse o mundo inteiro.

Se eu pudesse dar uma dica a quem deseja ser pai, seria essa:
vá sem garantias, mas com o coração inteiro.

Você não precisa ter tudo sob controle.
Precisa, sim, estar disponível.
Para aprender, para errar, para recomeçar.

Você não precisa saber como lidar com todas as fases.
Precisa apenas estar ali — quando a febre subir, quando o primeiro dente nascer, quando o medo do escuro aparecer.

Você não precisa prometer ser perfeito.
Precisa ser real.
Com suas falhas, com suas descobertas, com suas mãos que aprendem a segurar uma outra mão sem soltar jamais.

Ser pai não é sobre o que você pode oferecer de material.
É sobre o que você oferece de imaterial.
Tempo, escuta, aconchego, presença.

É sobre criar memórias que um dia ele vai lembrar com saudade — mesmo que ainda não tenha palavras para nomeá-las.
É sobre ser chão.
Ser farol.
Ser abrigo.

E, acima de tudo, é sobre permitir-se mudar.
Porque quando nasce um filho, nasce também um novo você.
Um você mais atento, mais presente, mais sensível ao que antes passava despercebido.

Você começa a notar o cheiro da manhã.
O barulho do vento nas folhas.
A beleza de ver alguém dormir profundamente no seu colo, como se ali fosse o lugar mais seguro do mundo.

E de fato é.

Porque ser pai é ser isso:
um lugar.
Uma casa em forma de gente.
Um tempo fora do tempo.

Então, se o seu coração está inquieto, curioso, comovido — talvez essa seja a resposta.
Talvez seja ele dizendo, baixinho: “é hora”.

Não porque tudo está pronto, mas porque você está disposto.
E disposição vale mais que qualquer planejamento.

Ser pai é o maior improviso bem-sucedido que conheço.
É amar sem saber direito como, mas amando assim mesmo.
É aprender que as perguntas mais importantes não têm resposta imediata — e tudo bem.

Se você quer ser pai, seja.
Não espere as contas fecharem, o medo passar ou o mundo estar em paz.
Espere apenas sentir: “estou aqui”.
E isso basta.

Porque, no fim das contas, o que um filho precisa não é de um pai perfeito.
Mas de um pai presente.
De um pai que tentou.
De um pai que disse sim, mesmo com medo.

E esse sim, meu amigo, é o começo de tudo.

 



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