Se você procurar um poema no Google sobre Minas Gerais, muito provavelmente, encontrará “Ser Mineiro”. A autoria, muitas vezes atribuída a gigantes como Drummond, Sabino ou Guimarães Rosa, na verdade pertence ao poeta José Batista de Queiroz, de Patrocínio. O patrocinense capturou com maestria o que todos nós sentimos: “Ser Mineiro é ter marca registrada, é ter história”.
Minas Gerais é uma terra repleta de saberes, culturas e, claro, muitos caminhos — cada um contando histórias fascinantes. Desde as montanhas imponentes até os vales tranquilos, cada canto desse Estado revela uma tradição e, claro, uma vocação natural para o turismo. E como não se apaixonar pelo queijo, pelo café, igrejas, cachoeiras, e agora o vinho?
Recentemente em Minas e em Patrocínio, abrem-se um novo caminho que começa a ganhar destaque, celebramos a ousadia de produtores que estão transformando o Cerrado Mineiro em solo fértil para os vinhos de qualidade. O município e região vêm se destacando com projetos que unem tradição, inovação e a vocação agrícola dos produtores locais.
Flávio de Freitas Bambini - presidente da Associação de Vinicultores do Cerrado Mineiro (Avincer)
A produção de vinhos no Cerrado teve início em 2013, quando o produtor Flávio (FOTO) Bambini conheceu o senhor José Marson, que o introduziu ao universo da vinificação artesanal. A experiência despertou o interesse por aprofundar os conhecimentos técnicos, levando -o até a EPAMIG, em Caldas (MG), referência em pesquisa e desenvolvimento na área de vitivinicultura.
Com o aprendizado e as primeiras tentativas de vinificação no Cerrado Mineiro, nasceu um hobby fruto de um propósito de gerações, pois a Família Bambini emigrou da Região da Toscana, famosa região de vinhos da Itália, para o Brasil em 1890. Ali nasceu o sonho, vieram para o Brasil com o propósito de contribuir para o desenvolvimento da agricultura local, ”O sonho de ontem, é a realidade de hoje! ” disse Flavio Bambini, na 3ª geração em solo brasileiro.
Em 2015, Flávio implantou seu primeiro vinhedo no Cerrado Mineiro e, no mesmo ano, teve a oportunidade de ver na reportagem de capa da Globo Rural o destaque do movimento de cafeicultores inspirando-se na viticultura para valorizar seus produtos, Café&Vinho. Em 2017, produziu as primeiras 150 unidades de vinho feito da casta Syrah, plantada em um hectare — o primeiro rótulo do Cerrado Mineiro.
O projeto-piloto que atualmente atinge 3 mil garrafas, vendidas localmente ou via Instagram estimulou-o a fomentar a ideia entre os cafeicultores da região e, no mesmo ano, junto com o Juliano Tarabal, Superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, lançou o projeto Vinhos do Cerrado, “várias pessoas ficaram curiosas”, lembra Bambini. As terras dedicadas aos vinhedos expandem-se ano após ano.
Atualmente, há vários projetos espalhados pelo Cerrado Mineiro, totalizando mais de 40 hectares de vinhedos e uma produção estimada para os próximos anos superior a 200 mil garrafas por ano. Para 2026, a expectativa é a de que, dos atuais 25 hectares de vinhas na região, surjam cerca de 140 mil garrafas, fruto do trabalho de onze produtores oito deles, também cafeicultores.
Em Agosto de 2023, aconteceu a primeira colheita de uvas na vinícola do Complexo Recanto em Patrocínio, da família Elias. Foram os primeiros produtores a plantar uvas em terras patrocinenses, trazendo Patrocínio e o Cerrado Mineiro para o mapa de produção de vinhos finos no Brasil. O plantio foi de uvas dos tipos Syrah e Cabernet sauvignon.
Produtores: Flávio e Ana Paula Bambini, Hilda e Marta Elias e Edu Spinacé
Neste ano, foi lançado o Vinho Raro Recanto no Festival da Colheita, que agradou ao público presente.
O trabalho é intensivo no campo devido a se inverter a época da colheita. Se a colheita do café pode alcançar três meses, a da uva é feita em um só dia, os cachos são enviados diretamente para a Vinícola que realiza todo o processo de vinificação, fermentação e engarrafamento.
Atualmente, as uvas mais plantadas na Região do Cerrado Mineiro são as variedades Syrah e Sauvignon Blanc, inicia-se o plantio de novas variedades como Cabernet Franc, Marselan, Malbec, Tempranillo e Chenin blanc, entre outras.
A tecnologia utilizada para produção dos vinhos é a tecnologia da Dupla Poda, através de podas e manejos, realiza-se 2 ciclos dentro do mesmo ano para que a colheita ocorra no período de outono / inverno, por este motivo são os vinhos são chamados de “Vinhos de Inverno”. As videiras são induzidas a produzir e maturar fora da época habitual aumentando significativamente o potencial da qualidade dos vinhos.
O período de inverno da Região do Cerrado Mineiro propicia um ambiente ideal para a maturação das uvas, as características climáticas como a temperatura amena e tempo seco, possibilitam a produção de vinhos estruturados de alta complexidade, o que os difere das demais regiões onde a maturação ocorre no período chuvoso no verão.
Patrocínio e a Região do Cerrado Mineiro têm se destacado como um dos novos terroirs dessa nova vitivinicultura de inverno. No município e região, estão localizadas vinícolas ativas, juntas, essas vinícolas somam mais de 40 hectares dedicados à viticultura:
* Vinícola Recanto — Frederico de Queiroz Elias, Hilda Elias Torezan e outros (Patrocínio - 1,0 hectare)
* Família Balerini — Espólio Marcelo Balerini de Carvalho (Serra do Salitre —2,0 ha)
* Vinícola Bambini — Flávio de Freitas Bambini (Cruzeiro da Fortaleza —0,8 ha)
* Vinícola Fazenda Alegria — Leonardo Palhares Cardoso (Patrocínio - 1,0 hectares)
* Vinícola Barinas — Márcio Borges Castro Alves e Tiago Castro Alves e (Araxá —2,3 ha)
* Vinícola Alma Rios — Maurício José de Melo Rios (Patos de Minas —4,0 ha)
* Vinícola Ar Puro — Marega (Uberaba —25,1 ha)
* Vinícola Ávila — Carlos de Ávila Neto (Araxá — 0,5 ha)
* Vinícola Casa Bruxel — Décio Bruxel e outros (Patos de Minas —8,5 ha)
* Vinícola Gameleira — Thiago Batista de Almeida (Patrocínio - 1,0 hectare)
* Vinícola Paiva Aguiar — Getúlio de Paiva Aguiar (Araxá —2,1 ha)
* Bruma Alta — Roni de Moraes Leme (Serra do Salitre — 1,0 ha)
Segundo os produtores, a vitivinicultura representa uma excelente alternativa de diversificação para pequenos, médios e grandes agricultores, otimizando custos de investimento permitindo o uso compartilhado de maquinário e mão de obra já empregada na cafeicultura.
Redação Gazeta / Pablo H