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Colunas
22/04/2024 - 09h24
Quem foi Júlia do Prado?
Confira a coluna do Brígida Borges na última edição da Gazeta: 4.238

Autorizada pela neta, Lorena Eduarda Prado que é a autora, publicamos, para o conhecimento dos leitores e patrocinenses, a biografia da pessoa que dá nome ao Instituto de Prevenção ao Câncer do Hospital de Amor, unidade Patrocínio; a primeira no estado de Minas Gerais.    

 

     “Júlia nasceu em 15 de junho de 1941 à beira do córrego Rio das Velhas, na Fazenda Santa Luzia, localizada no pequeno município de Sacramento. O lugar era conhecido como Cachoeira dos Macacos. A residência onde veio ao mundo foi deixada como herança por sua avó Anna Cândida de Oliveira, mãe de Damercina, também conhecida como vovó Nica.

 

Sendo a quarta filha de Damercina Rodrigues do Prado e Francisco Rodrigues Pereira, Júlia nunca teve uma vida tranquila. Assim como seus irmãos, estudou na zona rural, concluindo o curso primário. No entanto, seus pais não tinham meios para enviá-la a Sacramento para continuar os estudos, nem tinham com quem deixar os filhos. Mudar-se também não era uma opção, pois a subsistência da família dependia das atividades agrícolas de Francisco na roça, onde plantava mamona, milho, arroz, feijão e cana.

 

Desde nova, Júlia aprendeu o valor do trabalho, observando tanto o esforço do pai quanto o da mãe, que trabalhava incansavelmente em casa para complementar a renda familiar. Por ser a mais frágil fisicamente entre os irmãos, Júlia era poupada das tarefas mais árduas, contribuindo conforme sua capacidade permitia.

 

Sua saúde frágil marcou toda a sua vida, enfrentando anemia desde criança. Com o tempo, surgiram novos problemas, principalmente relacionados ao sistema digestivo, como hérnia de hiato, gastrite e Chagas no esôfago. Passou por uma cirurgia ainda jovem, quando houve falta de energia e anestesia no hospital. Mais tarde, também descobriu que tinha Chagas no coração. Mesmo convivendo com esses problemas de saúde, Júlia nunca os superou completamente, enfrentando as limitações que eles impunham.

 

Apesar das adversidades e de não ter nascido em uma família rica, Júlia desfrutou de uma infância e juventude felizes. Até os 13 anos, viveu na roça com seus pais. Com a morte do pai, em 1954, mudou-se com a mãe e os irmãos mais novos para Sacramento, onde passou praticamente toda a sua adolescência e início de sua vida adulta. Em 1961, mudaram para Uberlândia, Júlia, ainda solteira, enfrentava grandes tormentos, além dos problemas de saúde que passaram a integrar sua rotina.

 

Em breve, sua vida iria sofrer uma verdadeira guinada. Chegando a Uberlândia, foi morar, com a mãe e a irmã, em uma casa alugada por Toninho (seu irmão), na rua Brasília, bairro Bom Jesus. A época, fazia algumas costuras, mas logo conseguiu um emprego em uma lanchonete, o que mudaria completamente a sua trajetória.

 

Na lanchonete, Júlia conheceu Orlandino, conhecido como Orlando, um marceneiro que estava de partida para Ituiutaba, a serviço da empresa em que trabalhava. Os dois já tinham se visto no local algumas vezes, mas nunca haviam conversado. Certo dia, Orlando viu Júlia chorando e foi perguntar a ela o motivo da tristeza. Ouviu, como resposta, que tinha brigado em casa. Não teve dúvida: perguntou-lhe se queria ir com ele para Ituiutaba, proposta imediatamente aceita por ela. Arrumou as malas e partiu com Orlando. Permaneceram na cidade por 1 ano, e depois, retornaram para Uberlândia. 

 

E foi em Uberlândia que viveram até sua partida, em 16 de julho de 2006, um mês depois de ter completado 65 anos, casada com Orlandino e deixando 7 filhos. No atestado médico, constavam como causas de sua despedida: choque, desnutrição proteico-calórica, megaesôfago e cardiopatia chagásica. Apesar de ainda nova, já apresentava, há algum tempo, um quadro de confusão mental. Alternava momentos de lucidez com falas desconexas. Já não era a Júlia de outrora, aquela rocha mental que habitava um corpo franzino. Mas foram as antigas e crônicas fragilidades no aparelho gastrointestinal, a matriz dos problemas que a levaram. Na reta final, estava usando uma sonda para se alimentar. Deixou-se levar, preservando, até o último momento, a dignidade que marcou toda a sua existência.”



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