Desde os primórdios da civilização, a humanidade se vê diante de uma pergunta que ressoa através dos séculos: qual é o sentido da vida? Em meio às inovações tecnológicas, às inquietações sociais e às constantes mudanças culturais, o ser humano continua a buscar, muitas vezes em silêncio, um propósito que transcenda a mera existência biológica. A ciência pode medir o tempo de vida de uma célula ou o funcionamento do cérebro, mas permanece limitada quando confrontada com a essência da alma — esse componente invisível, mas profundamente real, que pulsa no âmago de cada indivíduo. Essa matéria propõe uma reflexão cuidadosa, não impositiva, mas instigante, sobre a existência humana sob a ótica de um Criador que, segundo a tradição bíblica, deu ao ser humano não apenas fôlego, mas destino.
Na narrativa da criação, conforme descrita no livro de
Gênesis, o homem surge não como acaso evolutivo, mas como obra-prima de um Deus
pessoal que "formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o
fôlego da vida" (Gênesis 2:7). A matéria prima — o pó — revela a
fragilidade da condição humana; mas o sopro divino evidencia sua origem e
propósito celestiais. Essa tensão entre o terreno e o eterno é uma constante no
drama humano. Por um lado, somos atraídos pelas realizações, posses e prazeres
desta vida. Por outro, há um eco da eternidade em nossos corações — uma sede
por algo que o tempo não pode saciar, como já escreveu Salomão: "Deus pôs
a eternidade no coração do homem" (Eclesiastes 3:11).
Contudo, a jornada humana foi marcada por rupturas. A
narrativa bíblica fala da queda, não apenas como um evento histórico, mas como
um reflexo profundo da condição atual do ser humano: afastado de seu Criador,
errante, fragmentado por dentro. Nesse sentido, o pecado não é meramente uma
transgressão moral, mas uma desconexão existencial — uma vida fora do eixo
original do propósito divino. Desde então, a humanidade busca respostas em
sistemas filosóficos, religiões, ciência, arte e poder. Mas, sem uma referência
transcendente, corre se o risco de confundir movimento com direção e progresso
com propósito.
Ao longo dos séculos, figuras notáveis da história — de
pensadores clássicos a líderes modernos — reconheceram que a realização plena
não se encontra em bens tangíveis. Tolstói, após alcançar fama e fortuna,
escreveu em sua autobiografia que sua alma gritava por algo que o mundo não
podia oferecer. Viktor Frankl, psiquiatra austríaco e sobrevivente de
Auschwitz, afirmou que o homem pode suportar qualquer sofrimento, desde que
saiba que sua vida tem um sentido. E esse sentido, segundo ele, não é construído,
mas descoberto. Para milhões, essa descoberta culmina na revelação de Deus em
Cristo Jesus — não como dogma institucional, mas como reencontro entre a
criatura e seu Criador.
A figura de Jesus de Nazaré é central nessa trajetória do pó
à eternidade. Mais do que um mestre moral ou símbolo religioso, Ele é
apresentado na Escritura como aquele que, sendo Deus, tornou-se homem para
restaurar a dignidade perdida da humanidade. Seu convite ecoa até hoje:
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6). Numa sociedade
saturada de caminhos, exausta de verdades relativas e confusa quanto ao sentido
da vida, essa afirmação é tão provocadora quanto libertadora. Não se trata de
adesão cega, mas de um convite a uma vida que vai além da sobrevivência, rumo à
plenitude.
A fé cristã propõe, portanto, uma compreensão da vida humana
não como um ciclo fechado entre nascimento e morte, mas como uma narrativa com
origem, desenvolvimento e consumação. A história não termina no túmulo. Para os
que creem, a morte é uma travessia. Paulo, o apóstolo, escreveu que "nem
olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou no coração humano o que
Deus preparou para os que o amam" (1 Coríntios 2:9). Há, segundo essa
esperança, uma eternidade reservada — não como fuga da realidade, mas como
culminância de uma vida vivida com propósito, fé e reconciliação com Deus.
A visão terrena da existência, por mais nobre que pareça, é
limitada quando desvinculada do eterno. Somos instados diariamente a viver para
o agora, para o consumo, para a visibilidade. Mas o tempo, como um rio
impiedoso, não cessa de correr, e nos obriga a pensar: e depois? O ser humano,
dotado de razão, sensibilidade e consciência, não pode se contentar com a
lógica de que tudo termina no pó. Há algo em nós que clama por permanência, por
justiça final, por reencontros definitivos. Esse clamor, segundo as Escrituras,
encontra eco e resposta em Deus.
Cabe à sociedade moderna — jornalistas, educadores, líderes
políticos, religiosos e cidadãos comuns — refletir sobre o papel que estamos
oferecendo às próximas gerações: uma existência materialista, utilitarista,
onde o valor do ser humano é medido por sua produção? Ou uma visão mais ampla,
em que o ser humano é reconhecido como portador de um destino que começa no pó,
mas não termina nele? Esse editorial não impõe fé, mas propõe uma perspectiva.
E como toda boa proposta, merece ser considerada, discutida e, talvez,
abraçada.
É nesse espírito que esta reflexão se encerra: não como
ponto final, mas como vírgula em uma conversa que precisa continuar. A vida
humana é breve, mas preciosa. Frágil, mas carregada de significado. E se for
verdade — como milhões afirmam — que há um Deus que nos criou, nos redimiu e
nos chama à eternidade, então não há tempo a perder. Em tempos de tanto ruído,
talvez seja hora de ouvir aquele sussurro eterno que nos convida a reencontrar
o sentido da vida: em Cristo, do pó à glória.
Por: Dr. Fernando Luiz Casavechi