Por Raphael Costa/ Agência do Rádio Mais
China e Estados Unidos, duas das maiores potências políticas e econômicas do mundo, entraram em uma batalha. Mesmo sem armas envolvidas, a tensão econômica entre os dois países tem reflexos em diversos setores, principalmente no mercado financeiro.
Desde o anúncio americano de tarifas de US$ 50 bilhões sobre importações chinesas, produtores agrícolas brasileiros observam atentamente essa "guerra velada". No início do mês, em resposta à taxação, o governo de Pequim impôs tarifas de 25% sobre 128 produtos "made in USA", como soja, carros, aviões, carne e produtos químicos.
O combate aos produtos de origem estrangeira é uma bandeira de campanha do presidente Donald Trump. Desde março, ele começou a colocar em prática sua política 'America First', que tem como foco principal fortalecer a indústria americana em detrimento de produtos importados.
Entre os produtos taxados está um dos pilares da agricultura brasileira: a soja. No ano passado, foram produzidos mais de 114 milhões de toneladas de soja no Brasil, segundo a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). Maior exportador mundial da oleaginosa, o Brasil bateu recordes na última safra, em meio a condições climáticas consideradas “perfeitas” pelo mercado.
O vácuo deixado pelo embate deu a alguns produtores a ideia de que o momento é propício para novos negócios, já que os americanos são um dos maiores produtores de soja do mundo. E a China, um dos principais compradores.
O assessor de Relações Internacionais da CNA, Pedro Henriques, afirma que a entidade pediu prudência aos exportadores, já que boa parte dos negócios é considerada de “curto prazo”. O especialista ressalta que medidas protecionistas são comuns e acredita também que oportunidades melhores possam surgir no mercado.
“De um modo geral, a gente tem que esperar um pouco para ver como os preços e as oportunidades vão se assentar para aproveitarmos de uma maneira mais positiva. Então, para de fato aproveitarmos essa oportunidade a longo prazo, precisamos ser racionais e trabalhar políticas que fortaleçam a competitividade do produtor brasileiro no comércio exterior, e não ser imediatista apenas para atender uma necessidade do mercado”, afirmou o assessor.
O tom de cautela em relação ao cenário mundial é reforçado pelo presidente da Associação de Produtores de Soja do Brasil, Marcos da Rosa. Produtor de soja no Mato Grosso, Marcos salienta que a crise entre americanos e chineses tem uma dimensão que não se restringe apenas ao comércio.
“Sem dúvidas, temos que ter cautela, pois são duas grandes potências mundiais que estão em uma disputa, e é uma disputa que nós ainda não entendemos o foco dela. Tem alguma coisa muito grande, além da produção agropecuária, envolvida nisso”, pontuou Marcos da Rosa.
No ano passado, foram exportados mais de 65 milhões de toneladas de soja, de acordo com a CNA. A perspectiva para 2018 é de uma produção menor que a do ano passado.
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